quinta-feira, 11 de março de 2010

Do alto da minha idade.


Estava eu cá pensando com meus botões, com a TV ainda um pouco quente após ter assistido uma reportagem sobre a moda e o impacto de Abbey Hallie e Amy Winehouse no cabelo das adolescentes, me exercitando ao som de Freak Show quando tentei compreender os versos de Daniel Johns, saídos de uma época em que só era preciso alguns amigos, instrumentos musicais, atitude e, acima de tudo, sensibilidade para se montar uma boa banda de rock. Que me perdoem os adolescentes, mas esses caras que andam tocando por aí tem o rosto tão corado, o cabelo tão bem tratado que me questiono se eles são tão sensíveis quanto afirmam e cantam, tendo em vista que há dez anos atrás esse mesmo Daniel Johns quase caia pelas tabelas cantando sua “doença emocional”.
Dizem que os mais velhos sempre vão resmungar que as coisas eram bem mais brilhantes em seus tempos de juventude, e quer saber? Talvez seja verdade. Talvez uma juventude feliz seja um poço sem fundo de felicidade do qual nos valemos para tentar enfrentar as dificuldades da vida adulta. Vendo dessa forma me sinto muito seguro para gritar a plenos pulmões: Eu tive uma adolescência MUITO FELIZ. Lembro que quando tinha meus treze anos de idade, minha mãe já falava “As coisas não são mais como eram antigamente” e quer saber de novo? E daí!
Dez anos depois, acabei percebendo que vivemos em um mundo tão doido, que nos apegamos a qualquer coisas que nos lembre dos tempos em que éramos indiscutivelmente felizes, por mais artificiais que essas coisas sejam. Lembro de tudo o que vi e vivi, de todas as situações que me fizeram chorar de rir, de todas as pessoas que conheci e percebo que essas coisas me marcaram muito mais do que qualquer coisa ruim que eu tenha vivido. Generalizando: Essas coisas, pessoas e momentos definem quem somos hoje e, por vezes, quando somos balançados pela duvida e pela decepção, nos ajudam a lembrar o tipo de pessoa que queremos nos tornar e as coisas que ainda temos que fazer. Então o que importa se escutamos Silverchair ou nx zero? O que realmente importa é se conseguimos ou não nos lembrar.
É lógico que nem tudo foi um mar de rosas, coisas ruins aconteceram a mim e a muitas outras pessoas, mas sabe o que eu aprendi? Que por mais que nós tenhamos sentido raiva, o que importa é tirarmos uma conclusão pelo menos razoável do que aconteceu e que, sempre que tivermos oportunidade, compartilhar isso com quem gostamos sem aquele ar desdenhoso de quem quer mostrar experiência de vida.
Eu, como qualquer outra pessoa saudável, tirei minhas conclusões e continuo tirando mesmo que, até entre aqueles que eu amo, existam os que discordem de mim, os que digam que eu moro em um campo de morangos e que é muito fácil dizer que não me importo, mesmo assim vou continuar não me importando, vou continuar concluindo, vou continuar vivendo.
Há algumas semanas atrás eu escrevi em minha agenda: Do alto dos meu 23 anos, eu cheguei à conclusão de que, na vida, não existe essa história de vencedor ou perdedor. Ha! Grandes salários, grandes casas, grandes carros, grandes casos. Uma grande ilusão. O que na realidade existem são pessoas que compreendem ou não a vida que tem. Acho que deve ser essa explicação para existirem pessoas extremamente pobres, mas, ainda assim, felizes e, em contraponto, pessoas que tem tudo menos satisfação.
E você? Do alto da sua idade, que conclusão você tirou?